sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Progresso pra quem?

Por Camila Queiroz

Há alguns anos acompanhamos a “luta” das elites cearenses para transformar o Porto do Pecém no que ele realmente deveria ser, de acordo com o projeto do Governo do Estado: um complexo industrial que vai agregar usina siderúrgica, termelétrica, uma futura refinaria de petróleo, entre outros empreendimentos. Se o Ceará quiser de fato se “desenvolver”, dizem a mídia e as elites, é necessário esse complexo industrial. Mas o que é esse desenvolvimento?
A usina siderúrgica Ceará Steel faz parte do Complexo Industrial do Porto do Pecém. Avaliada em U$ 760 milhões, tem financiamento de um consórcio formado por BNDES, BNB, empresa italiana Danieli, da Dongkuk Stell, da Coréia do Sul, e da Companhia Vale do Rio Doce. O projeto terá 80% de recursos externos. A partir da Usina, espera-se elevar a exportação local de placas de aço em 41%.
A promessa é de que a usina vai gerar 1.600 empregos, ocupando uma área de 297 hectares e utilizando um volume de água equivalente ao utilizado em Maranguape por 90 mil habitantes, sendo a fonte o açude Sítios Novos, localizado em Caucaia.
A siderúrgica anuncia que utilizará carvão mineral como fonte de energia para a produção do aço, energia que pode ser o impulsionador que conduzirá o mundo a ultrapassar o limite no que diz respeito às alterações climáticas. De todos os combustíveis fósseis, o carvão é o que lança na atmosfera a maior quantidade de CO2, além de dióxidos de Nitrogênio e Enxofre, por unidade de energia gerada. Em segundo lugar, vem o petróleo e, por último, o gás natural.
Os impactos ambientais desses empreendimentos são de grandes proporções e afetarão não apenas o estado, mas todo o planeta. A grande quantidade de gás carbônico que será emitido pelas termelétricas, a possibilidade de chuva ácida em virtude da alta emissão de dióxido de enxofre, o alto índice de emissão de material particulado pela poeira do carvão, que contêm grandes índices de nocividade para a saúde, os resíduos e afluentes líquidos que poderão contaminar os lençóis freáticos e comprometer o suprimento de água para as comunidade da região, são apenas algumas conseqüências imediatas da instalação de usinas movidas a carvão mineral. Os trabalhadores, as comunidades do entorno e mesmo a população em geral estarão expostos a acidentes industriais maiores, como incêndios, explosões, contaminação de extensas áreas e de diversos ecossistemas. Esse tipo de empreendimento não é mais aceito nos países desenvolvidos, onde já causaram muitos danos e a legislação ambiental é forte. Mas aqui no Brasil são recebidos como salvação desenvolvimentista para nossa miséria, sob o custo de incentivos fiscais pagos pelos cofres públicos e da exploração insustentável dos recursos naturais por aqui ainda existentes. Eles colocam como bom para o Ceará o que na verdade é bom para meia dúzia de empresários, daqui e de fora também. Sob a capa do velho discurso do progresso, prometem emprego e desenvolvimento. Na verdade, um projeto de desenvolvimento nitidamente elitista e concentrador de renda, insustentável, explorador de recursos humanos e naturais com fortes impactos no modo de vida das populações indígenas e tradicionais, tanto do sertão quanto do litoral.
Há ainda previsões para implantação de duas termelétricas: uma de 700 MW, que vai usar coque de petróleo - um tipo de carvão - e outra de 600 MW, que vai usar óleo combustível. Segundo reportagem publicada pelo jornalista Felipe Lobo no site O Eco, “o carvão, que será importado da Colômbia pela MPX para sua termelétrica no Pecém, é o mais barato do mundo. O próprio site da empresa de Eike Batista mostra que uma tonelada de carvão colombiano custa em torno de 24 dólares. Hoje, o barril de petróleo já ultrapassou a casa dos 120 dólares. Com custo baixo, prazo de obras que variam de 36 a 48 meses e pequena necessidade de funcionários (80, nesta usina em questão), a alternativa é um prato cheio para empresários e uma tragédia para o meio ambiente”. O jornalista ainda acrescenta que “além dos potenciais danos aos ecossistemas da região de São Gonçalo do Amarante, a termelétrica ganha em proporção ao se juntar com as outras fábricas do Complexo Industrial Portuário de Pecém. Até agora, além do porto, há uma termoelétrica da empresa Endesa pronta e movida a gás natural momentaneamente parada, uma filial da firma de energia eólica Wobben, um gasoduto semi-finalizado, uma empresa de ração em construção e o terreno desmatado de uma siderúrgica que ainda não aportou em terras cearenses. Fora isso, são esperadas outras usinas movidas a carvão, uma refinaria e diversas indústrias de base.”
Desenvolvimento pra quem? Que tipo de desenvolvimento? O “progresso” vem trazendo prejuízos às comunidades tradicionais. Na região do Porto do Pecém estão as comunidades indígenas dos Anacés. Três delas – mais de 800 famílias - já foram expulsas desde a implantação do Porto. E as que restaram, dividem seu território com toda sorte de empreendimentos. Dentre eles, poderíamos citar duas termoelétricas movidas a carvão mineral. Uma do grupo MPX Energias S.A., comandado pelo mega empresário Eike Batista - que recentemente foi expulso da Bolívia e se instalou nas proximidades do pantanal matogrossense -, e outra da Vale do Rio Doce. Há ainda a solicitação para que a Semace possa conceder licenças prévias para, pelo menos, mais cinco novas usinas, sendo uma delas a gás.
Agravando ainda mais a situação das comunidades daquela região, em setembro de 2007, o Governador Cid Gomes assinou o Decreto nº 28.883, que declarou de utilidade pública para fins de desapropriação uma área de 33.500 hectares, nos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, tendo em vista a implementação e expansão do Complexo Industrial Porto do Pecém. Quase toda essa área é tradicionalmente ocupada pelos índios Anacé. Mas não devemos nos espantar com essa atitude do governador. Em julho deste ano, ele e uma comissão de deputados sobrevoaram as comunidades de São José e Buriti, em Itapipoca, que estão em litígio com o grupo de empreendimentos turísticos Nova Atlantida, e declararam, apenas com esse passeio aéreo, que não havia índios no Ceará. E mais: o vice-governador, Francisco Pinheiro, teve o descaramento de lançar, esses dias, na Bienal do Livro, a sua pesquisa historiográfica sobre a formação do Ceará, um estudo sobre os indígenas, que vai completamente na contramão das atitudes políticas dele.
Em resposta a todas essas provocações, os índios Anacé, em sua última assembléia ocorrida em 18 de outubro do corrente ano, no qual participaram aproximadamente 200 representantes das comunidades dos Anacés de Bolso, Matões, Japuara, Santa Rosa, Gregório, Área Verde I e II, Chaves, Tapuio, Tocos, dentre outras, afirmaram unanimemente que lutarão até o fim pela demarcação de suas terras e não sairão, em hipótese alguma, do lugar onde vivem e onde viveram seus antepassados. Recentemente, os Anacé comemoraram uma importante vitória com a divulgação da Recomendação nº 59, de 12 de novembro de 2008, do Ministério Público Federal no Ceará (MPF/CE), que solicita ao Governo do Estado a interrupção das desapropriações em São Gonçalo do Amarante e Caucaia. O governo terá 15 dias para recorrer ou acatar a decisão.
O discurso do progresso está sendo agressiva e veementemente colocado, com argumentos perfeitamente acomodados à lógica do Capital – emprego, renda para a população local, melhor infra-estrutura - embora não vão se cumprir de fato, como já sabemos. Não cabe aqui, também, idealizar a vida dos indígenas no Ceará, pois sabemos que a situação das comunidades é precária no que diz respeito à saúde, à infra-estrutura (água, luz e telefone) e à educação – uma das grandes reivindicações são as escolas indígenas, em sintonia com a história das etnias, assim como os camponeses lutam pela escola camponesa e os pescadores pelas suas escolas, em consonância com as realidades de cada comunidade. Entretanto, se cabe analisar a situação com o pé no chão, cabe também dizer que a resistência dos modos de vida das comunidades tradicionais são importantes para mostrar a essas pessoas – empresários e governo do Estado - que nem tudo é lucro, que ainda resiste um modo de vida que valoriza a natureza, a memória e o sentimento de viver em comunidade.

Entendendo a exclusão




por Eteile Teixeira


Avaliar e sugerir alternativas para os níveis de pobreza e de exclusão social que prevalecem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil é o que visa o novo estudo publicado em maio de 2008, pelo Banco do Nordeste: “Mapa da Exclusão Social no Brasil: radiografia de um país assimetricamente pobre” , do professor e pesquisador José de Jesus Sousa Lemos, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Pós-Doutor em Economia Ambiental e ex-secretário de Assuntos Estratégicos do Governo do Estado do Maranhão (foto).

A obra de 188 páginas, teve sua primeira edição em maio de 2005, esgotando-se rápido. O novo lançamento, no início do ano, baseia-se em pesquisas e orientações prestadas aos estudantes de mestrado e doutorado, pelo professor, e apresenta um indicador que mede a exclusão social, o Índice de Exclusão Social (IES), calculando para todos os municípios e regiões do Brasil e alguns países filiados à ONU.

O IES é constituído por cinco indicadores de privações e não se limita apenas a hierarquizar os municípios ou estados Brasileiros. Pelo índice é possível estimar o percentual da população excluída em cada um dos municípios, estados, regiões brasileiras e para o país. Além disso, o IES utiliza ponderações diferenciadas e estimadas com fundamentação científica para os indicadores que o compõem.

O motivo de o autor utilizar esse Índice, que criou como complemento de avaliação e medições de padrões sociais em regiões pobres, é a insuficiência, na sua opinião, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para medir o bem-estar social em áreas de pobreza. Lemos também mostra a forma como foi construído o IES, as suas fundamentações no conceito de pobreza, bem como sua capacidade de aplicação na formulação e execução de políticas públicas.

O objetivo do pesquisador era construir um trabalho que fizesse o diagnóstico da pobreza prevalecente nos municípios, estados, regiões e do Brasil, e que fosse capaz de, numa simples avaliação, observar onde estão as maiores carências, e a partir dessa identificação desenhar campanhas para combater a desigualdade social.

A análise observou os indicadores em cada um dos 5.506 municípios dos 26 Estados brasileiros e nos 19 distritos do Distrito Federal. As evidências encontradas mostram que os 200 municípios mais carentes do Brasil situam-se em três Estados da região Amazônica (Acre, Amazonas e Pará), em todos os nove Estados do Nordeste e em Minas Gerais, este último com apenas um município compondo o grupo dos 200 mais carentes.




José Lemos mantém a pobreza como centro do livro, posicionando-a como sinônimo de exclusão social. O professor denomina as pessoas privadas dos serviços essenciais à vida, de socialmente excluídas, por morarem em locais que não têm água encanada, destino adequado aos resíduos sólidos, renda mínima às despesas elementares e serem analfabetas.


Os resultados encontrados nesta nova versão do livro podem ser de grande utilidade, tanto para quem toma decisões de políticas públicas (governos federal, estadual e municipal), como para quem elabora as legislações voltadas para atenuar a exclusão social (senadores, deputados e vereadores), ficando fácil para os governantes identificarem de imediato onde estão as maiores carências dos locais que governam.

A partir dessa identificação das privações, em que são mostrados os percentuais das populações excluídas de municípios, Estados, regiões e Brasil (com desdobramentos para as zonas urbanas e rurais), as autoridades podem desenhar as políticas públicas de combate à pobreza, elegendo as prioridades de ação de acordo com as carências dos seus locais que o trabalho mostra.

O livro é voltado ao público em geral, especialmente a estudantes, profissionais e pesquisadores que lidam com fatores econômico-sociais e políticas públicas.
Os interessados devem entrar em contato com o Ambiente de Comunicação Social do BNB, fax (85) 3299.3530, e-mail clienteconsulta@bnb.gov.br ou diretamente com o autor, pelo e-mail lemos@ufc.br e fone (98) 3227.5633.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Não somente passando...















por Pedro Guimarães
fotos de divulgação

Normalmente, eu não gosto de ser marionete para as pessoas. Quando as pessoas me tem com tanto poder, muitas vezes meu coração não acaba bem. Contudo, quando estou num teatro e sou controlado pela encenação, eu amo! Amo sofrer ou rir com aqueles personagens. Em En Passant, novo texto de Rafael Martins, eu fui manipulado completamente. Fui um corpo morto com o qual eles fizeram tudo. Fui das risadas altas ao choro com a mão na boca para não atrapalhar os outros espectadores.

Em uma madrugada qualquer em qualquer praça, duas pessoas quaisquer se encontram. Um homem e uma mulher. Não sabemos o que cada um carrega, qual os motivos que o levaram até ali. Logo sabemos que é dor... Dor que não se explica... Mas que se sente fundo e maltrata.

Através de cenas curtas, os dias vão passando e à platéia são apresentados os diálogos (muitas vezes sem razão lógica) que aqueles dois conseguem travar. E nos sentimos sentados num balanço do lado deles dividindo aquele turbilhão de sensações que não conseguimos definir.

O que será que lhes prende àquele lugar? Será apenas um grande cachecol que insiste em se amarrar a um balanço? Não... Eles encontraram um igual... Ou, talvez... Lá eles podem ser por completo... Ou o mais perto que chegam de ser completos. Por que voltar durante as madrugadas? As madrugadas são as piores horas... O silêncio é tanto que maltrata e a solidão faz questão de se mostrar presente e forte.

E todo o sentimento é dado para a platéia. Perde demais aquele que vai ao teatro mas não se permite ser manipulado por essa história. Interpretações tão vivas, tão verdadeiras! Aqueles personagens existem! Sou eu e mais vários amigos que nas madrugadas difíceis saem em busca de alguma praça, como se nela estivesse uma receita para o coração ficar tranquilo.

A encenação é muito bem cuidada. Opta-se por uma espécie de jogo cinematográfico que enche os olhos da platéia. É quase palpável uma edição cinematográfica, que dá dinamismo, movimento à vida lenta daqueles seres. Nada ali sobra. Tudo tem seu canto, tudo está acomodado. Até nós mesmos, espectadores, nos aconchegamos do lado dEle e dEla para ouvir suas histórias.


A interpretação de Milena Pitombeira controla todos os olhares. Uma energia fortemente pulsante sai dela e toma todos. As intenções são precisas, assim como os gestos. O mais mágico é sentir como se nós fôssemos ela. Queremos pular também no momento de desespero, precisamos de uma salvação! Jadeilson Feitosa nos mostra um homem mais cheio de silêncios. Causa arrepios nos pescoços da platéia ao enrolar freneticamente o cachecol como num último gesto. Um pouco menos de qualidade que a atriz, o que é bastante comum quando o ator assume a direção (embora eu não aceite esse justificativa). Mas Ele também tem força pra pegar o coração de quem assiste “En passant” e apertar com mãos fortes quando diz algumas frases de efeito.

A iluminação de Walter Façanha é linda (algo completamente esperado quando se trata do trabalho desse iluminador). Aceita a proposta da direção e a engrandece. As transições, o piscar de luz e os focos tão bem marcados deixam tudo com um clima de sonho ou de madrugada desperta. A sonoplastia é belíssima! Possui uma unidade completa, como se fosse feita exclusivamente para o espetáculo. Desde a primeira nota, ela é um veículo para a platéia ser puxada para a vida mostrada naquele palco.

A maquiagem, o cenário e o figurino de Yuri Yamamoto fazem jus ao que ele é pra mim: um gênio. E a genialidade está na simplicidade daqueles balanços e daquele poste ao contrário (nossa, como ninguém pensou nisso antes!). A praça tem um tom onírico com aqueles elementos, mas não deixa de existir. E a platéia fica se perguntando onde encontra isso, qual o limiar do palpável e da imaginação no meio daquelas loucuras. O figurino tão cinza parece que quer ser mais forte que o vermelho vivo que ainda existe neles. Tolice... Ainda tem vida naqueles seres, mesmo que difícil de ser percebida.

O texto de Rafael Martins é estranho. Vemos juntos delicadeza e crueldade. É um mergulho tão profundo naquelas personagens que nos perdemos no limite da realidade e da dramaturgia. Talvez o melhor escrito do autor. E outro grande mérito é permanecer nas nossas mentes dias depois. As sensações despertadas no espectador não são somente de passagem...



En Passant teve temporada de três meses neste ano nos teatros da cidade. Vida longa para um espetáculo no Ceará, porém curtíssima se compararmos com o tempo de exposição nos grandes centros. E, principalmente, se analisarmos a

qualidade do trabalho. Acredito que em 2009 outras apresentações virão, para matar a vontade de bom teatro pela platéia fortalezense e a saudade de personagens tão profundos, tão vivos!



Veja a comunidade dedicada ao espetáculo no orkut, onde poderá deixar impressões sobre a peça, conversar com outros espectadores, trocar idéias com os artistas e tirar dúvidas.


O que já foi publicado na imprensa sobre o espetáculo:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=52096
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=481893
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/771266.html
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/769707.html
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/740065.html

Aprendendo com a Internacionalização

Por André Bloc

O Intercâmbio Acadêmico é uma forma de troca de conhecimento e aprendizado, além de muitas vezes servir para aperfeiçoamento da língua. Vários projetos no Estado do Ceará têm estimulado essa forma de troca de experiências


Inúmeros estudantes cearenses já se beneficiaram de projetos de intercâmbio, bem como vários estudantes estrangeiros vieram ao Brasil em busca de novas experiências e desenvolvimento intelectual.

Na UFC, quem coordena esses projetos é a Coordenadoria de Assuntos Internacionais. No momento, estudantes estrangeiros de países como Alemanha, Guiné-Bissau e Cabo Verde estão matriculados em cursos de graduação no Ceará. Em contra-partida, estudantes cearenses estão vivendo e estudando em universidades européias, como a Universidade de Sevilha, na Espanha e as Escolas Centrais de Nantes e Paris, na França. Isso se dá graças ao consórcio da UFC com a EUBRANEX (European Brazilian Network of Academic Exchange, traduzido como “Rede de Intercâmbio Acadêmico Européia-Brasileira). Além da UFC, participam desse consórcio nove universidades européias e 10 brasileiras.

A coordenadora de Assuntos Internacionais da UFC, Professora Doutora Maria Elias Soares, concedeu uma entrevista para o explicando alguns aspectos da Internacionalização Acadêmica.



A Professora ainda acrescentou alguns esclarecimentos sobre a UNILAB (Universidade Luso-Afro-Brasileira). A professora fez questão de salientar que o projeto da UNILAB não é da UFC, mas que a UFC participa como universidade tutora do projeto, já que a própria UNILAB ainda não tem pessoal definido. O projeto já se inicia internacionalizado, já que visa a integração de alunos e corpo docente de toda a comunidade luso-fônica. A lusofonia é o que integra o povo brasileiro ao português e de alguns países africanos, daí a nova universidade oferece essa possibilidade de intercâmbio institucional.


Para mais informações acesse o site da Coordenadoria de Assuntos Internacionais

Redenção: cidade da liberdade!

Por Camilla Viégas

Redenção fica a 66 km de Fortaleza, capital do Ceará. Com uma população de mais 26 mil habitantes é lembrada por ser a primeira cidade brasileira a abolir a escravatura. Por esse motivo, mantém viva a tradição escrava por meio dos seus pontos turísticos como engenhos de cana-de-açúcar, senzalas, igrejas antigas e outros. Na praça principal, está Princesa Isabel homenageada em um busto. A cidade ainda preserva arquitetura de uma época em que ainda era vila, a Vila Acarape.

O ar de cidade do interior ainda não deixou a cidade de Redenção. As pessoas ainda sentam-se as calçadas no começo da noite para conversar, as bodegas servem de bar no período noturno e as crianças brincam na rua sem medo. Na entrada, uma placa luminosa com as palavras “A liberdade começou aqui”. A cidade que comemora 140 anos de fundação este mês está de braços abertos para acolher a Universidade de Integração Luso-Afro-Brasileira, a Unilab, que tem data prevista para entrar em funcionamento no ano de 2010. Como uma instituição federal destinada ao intercâmbio cultura com os países de língua estrangeira, a Universidade aposta na formação à distância, como afirma o segundo presidente da implantação da Unilab, Paulo Speller.

Quem mora na cidade tem mais uma razão para se orgulhar: a nova instituição federal vai aumentar as chances de capacitação profissional dos jovens através de um curso superior. A prefeita Francisca Torres, afirmou, em matéria divulgada no jornal O Povo, que o intercâmbio cultural vai ser muito importante. A moradora da cidade Francisca Cileide Teles, afirma estar bastante otimista com a construção da universidade: “Assim, nossos filhos tem mais uma oportunidade de se formar sem precisar ir pra Fortaleza”. Mas apesar de todo esse otimismo, a Unilab ainda tem previsão para começar as atividades em 2010 e vai contar com a tutela da Universidade Federal do Ceará.

O ecoturismo e o turismo histórico são os atrativos da região. O Museu Senzala do Negro Liberto, que fica no Engenho Livramento, é uma aula de história: a casa grande e a senzala em local peculiar, localizada no subsolo da casa, é uma das atrações. Pequena, úmida, abafada e escura ela abrigada os negros e ainda mantém, em seu centro, o tronco onde eram castigados os africanos. Há uma pequena passagem de comunicação por dentro da Casa Grande que mais parece um esconderijo de tão baixa e pequena. Com suas portas e janelas altas, suas meias paredes grossas, a Casa Senhorial, que pertencia e ainda pertence à família Muniz Rodrigues, faz o viajante voltar no tempo e imaginar como era a vida na época. O famoso Juvenal de Carvalho foi um antigo dono deste engenho.

Para chegar à Capela de Santa Rita é necessário subir mais de 100 degraus. De cima, se tem uma imagem panorâmica de toda a cidade de Redenção. Além de balneários, museus e capelas, Redenção abriga lendas e histórias locais, como toda cidade do interior. Visitar Redenção é estar sempre aberto à adquirir conhecimento.

Artigo de Opinião - Outros interesses em jogo

Por Monyse Ravenna

Para a instalação da Universidade Federal de Integração Luso-Afro-Brasileira, na cidade de Redenção, já estão previstos para 2009 um total de 30 milhões de reais na Lei Orçamentária da União destinados a investimento de pessoal e infra-estrutura da Unilab, nos próximos 5 anos serão gastos cerca de 160 milhões com a nova Universidade.

Os cursos ofertados pela Unilab serão, num primeiro momento, ligados a quatro áreas: Formação de Professores, Saúde, Gestão e Ciências Agrárias e Florestais.

Será discutida ainda, com o governo estadual, a implantação de uma quinta grande área, ligada a tecnologia, a Universidade já está com vistas a instalação da refinaria de petróleo e da usina siderúrgica, ambas com planos de serem instaladas no Complexo Portuário do Pecém e ambas também muito criticadas pelos da nos sociais e ambientais que trarão.

O projeto da Unilab visa integrar países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa . Tem o objetivo de promover o intercâmbio acadêmico, fomentar pesquisas e ministrar ensino superior público em países como Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e até Macau, região administrativa especial da China.

Em seu início a Unilab terá 5 mil vagas, disponíveis, metade delas para estudantes estrangeiros, em seu quadro docente também terão destaque professores estrangeiros.

É necessário que constatemos, mais uma vez, a pouca discussão em torno desse tema na UFC, já que nossa Universidade se coloca como instituição parceira. O desconhecimento da comunidade acadêmica para com a instalação da Univesidade é enorme, entre os estudantes o tema é praticamente desconhecido.

Outro aspecto a ser considerado e´o fato da Universidade já estar com vistas a preparar os quadros profissionais para as siderúrgica e a refinaria que irão ser instaladas, no Pecém. Os dois empreendimentos estão sendo cada vez mais questionados por conta dos impactos ambientais que já vem gerando e pelas questões sociais colocadas.

O diálogo com a comunidade acadêmica sobre a Unilab e outras questões como o ICA, precisa se mais efetivo. Diálogo esse em que os estudantes, servidores e professores possam ter voz e vez para decidir os rumos da Universidade.

Os incomodados que se retirem


Incomodado. É assim que sai um espectador da sala de cinema depois de assistir o novo filme de Fernando Meireles, Ensaio sobre a cegueira (Blindness, 2008). Incomoda ver a fragilidade humana diante da deficiência provocada por uma epidemia repentina de cegueira branca que acomete uma cidade. Incomoda ver a fragilidade do nosso sistema de governar, pensar e viver diante do inesperado. Incomoda ver que, no escuro (ou no branco total) os homens mostram o que de fato são: animais.
Todos esses incômodos não são novidade para quem leu o livro homônimo do escritor português ganhador do prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, no qual se baseia o filme. Agora, o incômodo de quem sai da sala de cinema é de outra natureza. É um incômodo físico. A iluminação e os efeitos de luz que se sucedem durante a projeção causam uma sensação de mal-estar. Agridem os olhos. O diretor parece querer provocar uma cegueira temporária na platéia tentando mostrar os acontecimentos sob o ponto de vista dos personagens, que são cegos. E é claro que isso incomoda.
Essa escolha da direção difere em muito com a do autor no romance original. Na literatura, o leitor tem um lugar de visão privilegiado, ele acompanha a onisciência do narrador em tudo. Por isso a leitura é clara, limpa. No filme, ocorre quase o inverso, além do espectador ser colocado diversas vezes no nível limitado de visão dos personagens, os efeitos de luz, a fotografia (de César Charlone) e a forma nem sempre linear de contar os fatos provocam um clima sombrio e de certo suspense.
Durante a produção do filme, Meireles escreveu um blog no qual conta sua experiência. Lá ele diz que a produtora americana considerou as primeiras versões muito fortes e alegou que o público não estaria preparado para isso. Está explicada a forma eufêmica como foram retratadas algumas cenas importantes. Usando efeitos de embaçamento e uma trilha sonora suave, algumas cenas lembram O jardineiro fiel (The Constant Gardener, 2005) também dirigido por Meirelles e distanciam-se do estilo que o mesmo diretor apresenta em Cidade de Deus ( 2002), seu filme mais premiado. É claro que não há um véu em tudo, mesmo porque a edição é de Daniel Rezende (Cidade de Deus e Tropa de elite). Mas, ao aceitar as exigências dos produtores, Meirelles colabora mais uma vez com o falso moralismo americano e deixa de fazer o que sabe melhor: retratar a crueza humana como ela é, coisa que os brasileiros já se acostumaram a ver.
É claro que não podemos esquecer que literatura e cinema são duas linguagens completamente diferentes e fazer a adaptação de uma obra da literatura para as telas não significa nunca fazer uma mera tradução, é uma recriação. Como peça independente do livro o filme cumpre bem seu papel. O roteirista Don Mckellar (que atua no filme como o Ladrão) conseguiu fazer uma boa transposição de uma linguagem à outra.
Também cumpriu muito bem o seu papel a atriz Julianne Moore (Fim de Caso, Longe do Paraíso e As Horas) e o ator Gael Garcia Bernal (Diários de motocicleta). As atuações deles (principalmente quando aparecem na mesma cena) são o ponto alto do filme. Eles carregam o filme nas costas: ela consegue transmitir a angústia de alguém que vê, mas preferia não enxergar, ele o instinto animal do homem que não vê, mas age como se enxergasse. As atuações de Mark Ruffalo e Alice Braga ficam a desejar, ele não convence como cego e ela parece repetir a mesma personagem de Cidade Baixa, sem novidades.

Trailer do filme
Entrevista com Saramago à Folha de São Paulo
Entrevista com Fernando Meireles no programa Roda Viva da TV Cultura

Waldenia Marcia